Jovens indígenas no Ceará realizam encontros em Poranga e Caucaia

O evento tem a organização da Adelco, via projeto Urucum, da Juventude Indígena do Ceará, do Esplar e União Europeia, com o apoio do Governo do Estado do Ceará.

Participarão jovens indígenas de todas as aldeias do estado que têm entre 15 e 29 anos. Acompanhe a programação e participe!

Seminário de Formação da Juventude Indígena no Ceará – Poranga -Ce

Sexta, 29.09:
Noite: Acolhida, boas vindas das lideranças, acordo de convivência e apresentações.

Sábado, 30.09:
Manhã – Rodas de conversa:
Roda de abertura: O que é ser jovem indígena?
Tarde de oficinas
Oficina 01 – Gestão de projetos
Oficina 02 – Comunicação
Oficina 03 – Espiritualidade
Oficina 04 – Gênero e Sexualidade
Noite: Festa da colheita.

Domingo, 01.10:
Manhã – Roda de conversa: Marco Temporal
Tarde: Roda de Conversa: Juventude e Território
Noite: Apresentação artística das produções das oficinas do sábado

II Encontro Estadual das Juventudes Indígenas

Data: 03,05 e 05 de novembro

Local: Aldeia Lagoa dos Tapebas – Caucaia-Ce

 

Acompanhe as novas informações no site.

Fonte: Comunicação Adelco

Adelco e Povo Tapeba: quando as histórias se misturam

A vitória do Povo Tapeba é a felicidade da Adelco – Associação para Desenvolvimento Local Co-produzido. Quando começamos nossa caminhada, em 2001, os Tapebas foram os primeiros indígenas a formarem uma parceria forte conosco e a confiarem que suas lutas também eram nossas. 16 anos depois, a parceria continua cada vez mais firme. Por isso, brindamos a vitória destas guerreiras e destes guerreiros que resistem em Caucaia, na região metropolitana de Fortaleza-Ce.

Depois de mais de 30 anos de espera, muitas lutas, idas e vindas, guerreiros e guerreiras que tombaram, o dia 04 de setembro amanheceu iluminado pelo encantado. Recebemos a notícia que o Ministério da Justiça oficializou as terras tradicionalmente ocupadas pela etnia Tapeba, local de uma grande especulação imobiliária e olhares de posseiros. Se estamos sempre juntos na luta, agora, estamos juntos em festa. Nos enchemos de esperança!

Amizade de longa data

Recordamos algumas das parcerias que traçamos com as guerreiras e os guerreiros Tapebas desde a fundação da Adelco, em 2001:

2002-2012 – O Programa de Microcrédito Produtivo e Habitacional esteve centrado na melhoria habitacional e na geração de renda do povo Tapeba, através da viabilização de recursos para reforma de moradias para a população de baixa renda, do fortalecimento das associações comunitárias, da melhoria das condições de saúde e higiene, além de ter estimulado a prática da poupança.

2006 – Lançamos o projeto Capacitação da comunidade indígena Tapeba para sua inserção no e-commerce e no turismo cultural, buscando apoiar a comunidade indígena Tapeba na sua busca por sustentação econômica, através da geração de trabalho e renda, consolidando e divulgando sua identidade cultural e comercializando sua produção artesanal.

2008-2009 – Iniciamos o Projeto Inhuçu – Fortalecimento da capacidade de gestão de projetos econômicos e culturais e da identidade indígena para o etnodesenvolvimento Tapeba. O objetivo era a melhoria da qualidade do artesanato, fortalecimento da capacidade de gestão de projetos econômicos e culturais, auxiliando no desenvolvimento da consciência ambiental e competências básicas para plantio e manejo de espécies arbóreas nativas, realização de eventos de intercâmbio e fortalecimento cultural e desenvolvimento de práticas da culinária típica.

2008-2012 – Neste mesmo ano também trabalhamos com os Tapebas no projeto Ayty – Turismo de Base Comunitária do Povo Tapeba, que teve como foco o apoio à iniciativa de Turismo de Base Comunitária no município de Caucaia – CE.

2010-2013 – O Projeto Tribo das Águas – Cuidando da água e dos ambientes aquáticos Tapeba, promoveu a sensibilização ambiental para a conservação da água e dos ecossistemas aquáticos no Território Indígena Tapeba, com a perspectiva de proteger sua biodiversidade e garantir os serviços ambientais que estes ecossistemas proporcionam, constituindo medida de adaptação à mudança do clima.

2013-2016 – O projeto Etnodesenvolvimento – Ceará Indígena, trabalhou com várias etnias, incluindo também a presença dos Tapebas. Seu foco esteve na melhoria da qualidade de vida de comunidades indígenas do Ceará, dinamizando a economia solidária local, fortalecendo o turismo comunitário e favorecendo melhores condições de segurança alimentar, considerando sempre as diversas culturas e etnias.

2015-2016 – Mais recentemente foi a vez de construir o Planos de Gestão Territorial e Ambiental (PGTAs) da Terra Indígena Tapeba (Caucaia – Ceará), por meio de metodologias participativas que priorizem o protagonismo, o diálogo intercultural, a preservação dos valores culturais e os recursos ambientais das Terras Indígenas.

2015-2016 – Também foram anos do projeto São José III – Indígenas e Quilombolas, quando apoiamos as Entidades Representativas dos Beneficiários, de Comunidades Indígenas e Quilombolas, na elaboração de Planos de Negócio de Empreendimentos Coletivos de Agricultores Familiares. Os Tapebas também estavam presentes.

2016-2019 – Atualmente, seguimos com o Projeto URUCUM – Fortalecendo a autonomia político-organizativa dos povos indígenas se desenvolve em parceria com o ESPLAR, junto às 14 etnias do Estado Ceará, presentes em 19 municípios. Este projeto contribui para o fortalecimento das capacidades de gestão e de intervenção social e política das associações indígenas e suas três principais representações no Ceará: a COPICE (Coordenação das Organizações e Povos Indígenas do Ceará), a AMICE (Articulação das Mulheres Indígenas do Ceará) e a COJICE (Comissão de Juventude Indígena do Ceará).

Como iniciou a luta do povo Tapeba

Em 20 maio de 1985, 70 índias e índios assinaram um abaixo assinado para plantar nas terras, ter um posto de saúde e uma escola indígena. Este foi o primeiro registro oficial que a Adelco e pesquisadores indigenistas têm notícia. Começava ali, oficialmente, a luta pela demarcação daquelas terras como território Tapeba.

Como uma bonita coincidência, dois dias depois do reconhecimento do Ministério Público, a Adelco recebe da gráfica o Plano de Gestão Territorial e Ambiental Indígena Tapeba (PGTA), um planejamento que elabora estratégias para o uso sustentável da terra e dos recursos indígenas. O documento foi realizado em parceria entre a Adelco e Associação das Comunidades dos Índios Tapebas e alguns apoiadores. Trata-se do processo de demarcação da terra, a caracterização socioambiental da comunidade, os aspectos físicos do território, e um planejamento para o uso da terra e dos seus recursos. Conheça os Tapebas como a gente os conhece, acessando o PGTA online ou físico no site www.adelco.org.br. Veja também imagens aéreas das terras dos Tapebas: https://youtu.be/SDAsoiHc4Bk

Salve, povo Tapeba! Salve, povos indígenas de todo o Ceará!

Às 18 aldeias da zona urbana e periurbana de Caucaia-Ce, nosso salve e nosso compromisso de luta.

Salve, Capoeira!

Salve, Capuan!

Salve, Lameirão!

Salve, Jandaiguaba!

Salve, Jardim do Amor!

Salve, Lagoa I!

Salve, Lagoa das Bestas!

Salve, Lagoa dos Tapebas!

Salve, Ponte!

Salve, Sobradinho!

Salve, Trilho e Vila dos Cacos!

Salve, Itambé!

Salve, Coité!

Salve, Bom Jesus!

Salve, Água Suja!

Salve, Vila Nova!

Salve, Mestre Antônio!

Fonte: Comunicação Adelco

 

 

Mulheres indígenas do Ceará lideram a busca por direitos e combatem feminicídio nas aldeias

Por Comunicação Esplar, Centro de Pesquisa e Assessoria.

Arte: Esplar

Como uma árvore que precisa ser desentortada para erguer-se. Esta é a simbologia que a líder Pitaguary, Ana Clécia Souza Nascimento, encontra para explicar a luta das mulheres indígenas por liberdade e representatividade.

Criadas sob o peso de costumes repressores, que as calavam e apartavam das rodas de decisão nas aldeias, as mulheres Tapeba, Tabajara, Potyguara, Pitaguary, Tremembé, Anacé, Kanindé e de diversas outras etnias do Ceará têm desafiado os preconceitos e encontrado espaços de participação em seu próprio território. O projeto “Fortalecendo Povos Indígenas” desenvolvido pelo Esplar, Centro de Pesquisa e Assessoria e pela Aldeco, Associação Para o Desenvolvimento Local Co-Produzido as capacita para participar de espaços políticos e pressionar por ações de combate à violência doméstica.

Foto: Acervo pessoal

Há dez anos, elas fundaram a Articulação de Mulheres Indígenas do Ceará (AMICE) para “respeitar e fazer respeitar a participação de mulheres dentro do movimento indígena”(estatuto AMICE). Clécia Pitaguary explica que muitas líderes foram caluniadas quando ousaram sair das aldeias para participar das assembleias, conferências e manifestações, tal como os homens. “Houve discriminação por ela (mulher indígena) querer ocupar um espaço que só os homens tinham o direito de ocupar”, lembra.

Foi preciso, antes mesmo antes de partir para as lutas fora do seu território, que as mulheres se erguessem para mostrar sua contribuição ali, dentro da aldeia. “Quando os nossos maridos, lideranças e pajé se ausentavam da aldeia para ir em busca de nossos direitos, quem cuidava das crianças, das aldeia e da roça éramos nós mulheres. Nesse momento a nossa contribuição também estava sendo dada”, afirma ela.

Feminismo indígena pelo fim da violência doméstica

De acordo com Instituto de Estudos Socioeconômicos, as primeiras organizações de mulheres indígenas surgiram na década de 1980 e fizeram da igualdade de gênero uma pauta para entidades que representam as etnias brasileiras. Representando sua aldeias, elas foram atuantes na definição de políticas públicas de Saúde e Educação indígenas, na segurança alimentar para as tribos e também passaram a reivindicar ações de combate à violência doméstica.

Dentro da aldeia Monguba, localizada na cidade de Pacatuba, Clécia Pitaguary tem feito o que pode para proteger a vida das mulheres agredidas pelos companheiros e familiares. “Já abriguei várias mulheres que sofriam violência doméstica, já denunciei vários maridos também”, afirma a integrante da AMICE.

Recentemente, na sua comunidade o machismo tirou a vida de mais uma mulher. No dia 6 de agosto, Roseane Dantas, jovem Pitaguary, foi assassinada e enterrada no quintal de sua casa por Lucas Matias, o homem com quem era casada. Para que o assassino não ficasse impune e a morte da sua parente fosse reconhecida como feminicídio, Clécia investigou, junto com a família de Roseane, a real causa da morte e onde estava o corpo.

“Fui para a casa da família, chamei as mulheres para conversar e saber se ela (Roseane) havia desabafado alguma coisa. Uma mulher disse pra mim: ‘ele fez alguma coisa com ela, tem que procurar, o corpo dela está em algum lugar’, lembra Clécia.

O corpo foi localizado, mas o assassino só foi preso quando a própria comunidade denunciou à polícia onde ele estava. Doze dias após o crime, a AMICE organizou uma marcha em protesto e convocou as mulheres da comunidade para apoiar a manifestação. Mesmo sendo uma aldeia matriarcal, Clécia afirma que em não há consciência do risco do machismo para a vida das mulheres.

“Ainda não existe muito entendimento das pessoas sobre a gravidade e o tamanho da violência que é o feminicídio. A comunidade precisa ser trabalhada sobre essa da desvalorização da mulher e as pessoas ainda não estão abertas para isso”, percebe a líder.

Ainda enlutada, ela descreve a solidariedade que surge entre mulheres quando percebem a violência de gênero que existe. “É como se tivéssemos todas em um cordão umbilical que liga uma à outra. Na hora que uma sofre, nós sentimos a mesma dor. Nós todas somos mulheres e temos que ter essa sensibilidade de compreender a dor da outra e contribuir para aliviar seja qual for a situação que a uma mulher esteja sofrendo dentro da comunidade”, diz ela

Conheça também a história da liderança Rosa Potyguara